Auxiliares do presidente Lula identificaram um fortalecimento do discurso de extrema-direita nas redes sociais nas últimas semanas e vinculam esse movimento à vitória de Donald Trump nas eleições americanas. A previsão é que o cenário piore nos próximos meses. Uma aposta para tentar fazer frente a isso é concluir uma nova licitação em breve para contratar empresas de comunicação digital.
O diagnóstico no Palácio do Planalto é que a Secom não tem funcionários, recursos e estrutura suficientes para equilibrar a disputa com a extrema-direita. Ou seja, é necessário contratar empresas especializadas nisso.
Uma licitação para contratar quatro empresas, a um custo de R$ 197 milhões por ano, foi concluída no meio do ano, mas teve de ser suspensa após o TCU (Tribunal de Contas da União) identificar possíveis irregularidades. Até hoje o problema não foi resolvido.
Em discurso na última sexta-feira, durante evento do PT, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deixou clara a insatisfação com o fato de até agora, após dois anos de governo, a licitação não ter sido concluída. O presidente afirmou que o governo está se comunicando mal e que fará os ajustes necessários na comunicação.
No Planalto, há um entendimento de que esse é um dos principais motivos que levaram o presidente a uma provável decisão de substituir o ministro da Secom, Paulo Pimenta. Neste momento, a nova licitação está em análise na Consultoria Jurídica da Secom e deve ser concluída nos próximos meses.
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Contratação de marqueteiro
A ida do publicitário Sidônio Palmeira ao governo é bastante provável, na avaliação de fontes no Palácio do Planalto, mas ainda há dois entraves pelo caminho: abrir mão de seus negócios e ter garantias de que terá plenos poderes na Secretaria de Comunicação Social.
O presidente deverá ter uma conversa com Sidônio assim que retornar à Brasília. Apesar de o Lula já ter convidado o marqueteiro para participar do governo, o martelo ainda não foi batido porque falta definir qual será exatamente o papel do publicitário.
Para assumir a pasta, Sidônio quer ter ascendência sobre todas as áreas da Secom, ao contrário do que ocorreu com Pimenta, e deseja trazer para o governo pessoas de sua confiança.
O marqueteiro é proprietário de uma agência de publicidade e tem vários negócios na Bahia. Para assumir um cargo no governo, teria que se afastar da administração das empresas e, claro, se mudar para Brasília, o que ele já recusou quando foi convidado para ser ministro da Secom durante a transição.
Segundo pessoas próximas ao publicitário, o marqueteiro tem vontade de participar do governo. Quer dar sua parcela de contribuição no combate à extrema-direita e entende que o momento atual é crucial. Essa inflexão na vida de Sidônio, no entanto, só faria sentido se ele tiver plenos poderes na Secom.
Outro caminho possível é Sidônio ampliar sua presença no Planalto, com uma colaboração mais direta e efetiva com o governo, a exemplo do que ocorreu com os marqueteiros Duda Mendonça e João Santana nos primeiros mandatos de Lula. Se a opção for esta, o atual secretário-adjunto de Comunicação Social, Laércio Portela, poderia ser promovido a ministro da Secom.
A saída de Pimenta é cada vez mais dada como certa no Planalto. O ministro conversou com Lula por telefone na última terça-feira (10) e ouviu do presidente que ele será candidato ao Senado pelo PT em 2026 no Rio Grande do Sul. Por conta disso, a leitura na Secom é que Pimenta continuará próximo de Lula, seja em outro ministério palaciano, como a Secretaria-Geral, ou como líder do governo na Câmara ou no Congresso.
Obstáculos políticos
Dentro da Secom, no entanto, há uma leitura de que o problema é menos da comunicação e mais de ordem política. A avaliação interna é que a falta de coordenação e estratégia política do Planalto estão na raiz das dificuldades do governo e que isso acaba transbordando para a comunicação.
Sidônio concorda em parte com esse diagnóstico. Na visão do marqueteiro, comunicação, política e gestão formam um tripé inseparável, precisam caminhar juntas.
O diagnóstico é que Lula, ao contrário dos outros mandatos, não conseguiu formar um núcleo de governo com auxiliares capazes de ter mais ascendência sobre as decisões da Presidência, inclusive com força para confrontar o mandatário quando preciso.
Outro problema apontado dentro do Planalto é a fragmentação da Secom. Os auxiliares de Lula que estão em cargos-chave na pasta trabalharam na campanha do presidente e têm relação direta com ele ou com a primeira-dama, Janja da Silva.
O secretário de Audiovisual, Ricardo Stuckert, e o de Imprensa, José Chrispiniano, estão com Lula há muitos anos. Já a secretária de Estratégia Digital, Brunna Rosa, trabalhou com o jornalista Franklin Martins entre 2007 e 2011, quando ele foi o titular da Secom, além de ter relação próxima com Janja.
Há divergências entre eles sobre as estratégias de comunicação do presidente. O chefe de todos, o ministro Paulo Pimenta, não teve força até agora para construir um alinhamento entre esses setores.
Por fim, três auxiliares próximos de Lula ouvidos pela reportagem entendem que uma comunicação mais eficiente, sobretudo no meio digital, passa por uma mudança de postura do próprio presidente. O problema é que o universo digital ainda é um terreno pouco conhecido de Lula, que sequer tem telefone celular.
Segundo esses assessores, Lula sempre foi um comunicador nato, mas ainda não se apropriou da forma de se comunicar no ambiente digital. O diagnóstico é que hoje a comunicação nas redes é construída em torno de aspectos muito pessoais do político. Ou seja, passa por uma performance do próprio presidente.
Outro queixa dos auxiliares é a resistência do presidente em dar entrevistas à imprensa no dia-a-dia. O próprio PT defende que Lula apareça mais e utilize com mais frequência pronunciamentos em cadeia nacional.
Fonte: G1