Com Gleisi ministra, Lula faz golaço para a direita

Não seria surpreendente se, em breve, Janja recebesse um ministério

A nomeação de Gleisi Hoffmann como ministra encarregada da articulação política do governo Lula gerou perplexidade até entre aliados. Muitos criticam a decisão, apontando que a falta de diálogo já era um problema e que a chegada de Gleisi só deve piorar a situação. Mas, se formos pensar, poderia ser pior. Lula ainda poderia ter escolhido Janja, que além de caótica é inexperiente.

Gleisi é experiente, disso ninguém duvida. É uma figura aguerrida, combativa e fiel ao PT. Mas o problema é justamente esse: a falta de habilidade conciliatória. Para defender o partido, não há nome melhor. Gleisi é capaz de justificar o injustificável, de defender o indefensável e de entrar de cabeça em qualquer bate-boca. Mas essa postura é o oposto do que se espera de uma ministra encarregada de construir pontes com o Congresso. A escolha de Lula indica um caminho de radicalização e confrontos, e não de entendimento e alianças.

A decisão foi anunciada na sexta-feira pré-carnaval, um momento que, em outros governos, poderia levantar suspeitas de ter sido tomada sob influência de uma festa regada a bebida. Mas como Lula é abstêmio, só resta concluir que essa foi uma escolha racional, ainda que ninguém consiga entender qual estratégia pode haver por trás disso.

Não foi a primeira vez que Gleisi foi colocada em uma posição que exigia habilidades que ela não tem. Dilma Rousseff a nomeou ministra da Casa Civil, em uma tentativa desastrada de reorganizar o governo após a queda de Palocci. O desfecho nós conhecemos bem. Não que eu queira dar spoilers do documentário da Petra Costa sobre a queda de Dilma, mas sabemos como terminou aquele governo.

Agora, Lula parece estar repetindo a história, mas em um contexto ainda mais difícil. O governo precisa de diálogo, de costura política e de alianças que não se baseiem apenas em cargos e emendas. Ao escolher Gleisi, Lula está optando pelo confronto em vez da negociação.

Se a intenção é radicalizar e partir para o enfrentamento direto com o Congresso, então a estratégia faz sentido. Se a intenção era melhorar a relação com o Legislativo, então estamos diante de um tiro no pé. Para a direita, essa nomeação foi um golaço. Para o governo, a impressão é de um verdadeiro “barata voa”.

A pergunta que fica é: qual será o próximo passo de Lula? Se ele já colocou Gleisi nas relações institucionais, não seria surpreendente se, em breve, Janja recebesse um ministério. Se é para implodir de vez, por que não?

O Antagonista

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