O incômodo seletivo da mídia: por que as grandes redes criticam as sanções de Trump a Alexandre de Moraes

Nos últimos dias, grandes redes de TV brasileiras passaram a criticar com intensidade as sanções contra o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal, implementada pelo presidente americano Donald Trump enquadrando-o na Lei Magnitsky. A alegação de Trump seria a de que Moraes estaria “violando liberdades civis” ao combater a desinformação e conter tentativas de desestabilizar a democracia brasileira.

A reação da mídia brasileira chama atenção, mas não necessariamente por defender a democracia. O que está em jogo é, sobretudo, a disputa narrativa em torno do poder institucional e da autoridade moral do STF — especialmente de Alexandre de Moraes, que se tornou figura central na contenção dos ataques antidemocráticos recentes no Brasil.

Ao condenar a postura de Trump, essas emissoras assumem uma postura crítica seletiva. Afinal, muitas dessas mesmas redes foram complacentes, quando não cúmplices, com ataques mais sutis à institucionalidade durante anos. Mostraram pouco apetite por denunciar o desmonte de estruturas democráticas e, em alguns casos, relativizaram ações autoritárias sob o manto de “liberdade de expressão”.

Agora, diante de uma retaliação externa – motivada não por princípios, mas por afinidades ideológicas e ressentimentos do trumpismo –, as emissoras se apressam em defender o STF, mas evitam aprofundar o debate sobre o papel da desinformação na política, os limites da liberdade de expressão e a necessidade de proteger a democracia com firmeza, inclusive quando isso significa restringir abusos digitais organizados.

A crítica às sanções de Trump seria legítima se viesse acompanhada de uma autocrítica. Mas, na maioria dos casos, o que se vê é uma tentativa de blindar figuras institucionais que hoje são vistas como baluartes da estabilidade, sem discutir o quanto o próprio sistema de mídia contribuiu para o enfraquecimento da verdade nos últimos anos.

No fundo, as grandes redes não estão apenas defendendo Moraes — estão tentando limpar a própria imagem, associando-se agora ao discurso da defesa da democracia, depois de anos flertando com o oportunismo editorial. A verdadeira crítica deveria mirar não só Trump, mas também os interesses e omissões que permitiram que figuras como ele e seus aliados ganhassem tanta influência em nível global.

Por Jorge Poliglota

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