O governo dos EUA avalia limitar os deslocamentos das delegações do Brasil, Irã, Sudão e Zimbábue durante a Assembleia Geral da ONU, que começa em 22 de setembro em Nova Iorque. A informação foi divulgada nesta quinta-feira, 4, a partir de um memorando interno do Departamento de Estado norte-americano.
As possíveis medidas restritivas de visto poderiam limitar as atividades dos representantes desses países fora da área da Assembleia, reforçando a fiscalização sobre suas movimentações. A delegação brasileira, que tradicionalmente faz o primeiro discurso do evento, também está incluída na análise.
Segundo a Associated Press (AP), ainda não estava claro se eventuais restrições de visto afetariam o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou apenas membros de nível inferior da delegação. Lula tem sido alvo de críticas diretas do presidente Donald Trump, que se opõe ao processo judicial contra o ex-presidente Jair Bolsonaro, acusado de tentativa de golpe de Estado. A inclusão do Brasil nas possíveis restrições evidencia o aumento das tensões políticas entre os dois governos.
No caso do Irã, as limitações já existentes podem ser ampliadas, inclusive para impedir diplomatas iranianos de frequentar lojas como Costco e Sam’s Club sem autorização do Departamento de Estado. A AP relatou que esses estabelecimentos eram usados para adquirir produtos em grande volume e enviá-los a Teerã, como forma de driblar a escassez no país.
Enquanto essas nações enfrentam possíveis sanções, a Síria foi isenta. Sua delegação foi liberada das restrições de circulação após mais de dez anos, em decisão alinhada à política de Trump de fortalecer laços depois da queda do ditador Bashar al-Assad em 2024.
O Departamento de Estado dos EUA também negou vistos ao líder palestino Mahmoud Abbas e à delegação da Palestina para o encontro da ONU. Procurados pela AP, representantes do Brasil e do Irã não se manifestaram.
Além disso, o ministro da Saúde, Alexandre Padilha, ainda não tem visto para comparecer à Assembleia. O tema das restrições é mais um capítulo da crise entre Brasília e Washington.
Em julho, a Casa Branca anulou os vistos de oito ministros do STF — entre eles Alexandre de Moraes, Luiz Roberto Barroso e Gilmar Mendes — além do procurador-geral Paulo Gonet. Moraes também recebeu sanção pela Lei Magnitsky.
No dia 15 de agosto, o consulado norte-americano em São Paulo informou à esposa e à filha de dez anos de Padilha sobre a revogação de seus vistos. O ministro declarou que não foi afetado, já que o seu estava vencido desde 2024, mas afirmou não saber se participará do evento da ONU.
Os EUA também cancelaram os vistos de Mozart, Julio Tabosa Salles e Alberto Kleiman, ligados ao programa Mais Médicos do governo Dilma Rousseff. O Departamento de Estado alegou que a medida buscou responsabilizar os envolvidos no esquema de exportação de trabalho forçado do regime cubano.
Na semana seguinte, surgiram relatos de revogação de vistos do ministro da Justiça, Ricardo Lewandowski, do senador Rodrigo Pacheco e de familiares de autoridades brasileiras.
Fonte: Revista Oeste