Apresentador afirma à Folha que precisa de respaldo do PSDB para concorrer e que Tabata correu risco ao convencê-lo a se filiar ao partido, o 11º de sua vida
A entrevista com Datena encerra a série com pré-candidatos iniciada pela Folha em setembro do ano passado. O apresentador foi o último dos principais concorrentes a ter a pré-candidatura anunciada por seu partido, em junho, e agendou a entrevista para esta segunda-feira (22).
Antes dele, foram ouvidos Guilherme Boulos (PSOL), Ricardo Nunes (MDB), Tabata Amaral (PSB), Kim Kataguiri (União Brasil), Marina Helena (Novo) e Pablo Marçal (PRTB).
Como foi ir ao Mercadão na semana passada? É a primeira vez que o sr. sai às ruas em uma campanha.
Foi muito gostoso, foi legal. Sou um [pré-]candidato, mas sou apresentador, então sou um cara conhecido. Eu avisei o pessoal: vai dar complicação. E foi uma complicação terrível, tinha gente pra caramba, eu não conseguia sair de lá.
Tem que ter essa preocupação. Não quero, sem falsa modéstia, criar problema, aglomeração, empurra-empurra. Quero evitar um pouco. Não evitar o povo, mas evitar problema para o povo.
Muita gente desconfia que o sr. não vai seguir com a candidatura.
Até eu desconfio. Se continuar essa sacanagem de que o partido está conversando com outras pessoas para colocar dentro do partido sem me avisar, eu não vou ser candidato. Se o Biden pode desistir a qualquer momento, por que eu não posso? Desde o começo, falei: se me sacanearam, eu desisto mesmo.
O sr. falou que as pessoas que estavam “sacaneando” tinham sido tiradas.
Nem tanto. Quem foi atrás de cargo, emenda, dinheiro, esses já foram, mas deixaram alguns ali dentro para atrapalhar minha candidatura, inclusive a convenção. Tenho confiança na executiva nacional, no Marconi [Perillo], no Aécio [Neves], apesar de termos tido discussões lá atrás, e no José Aníbal. Mas os principais tiros que levei foram de dentro do partido.
Quais tiros?
Por exemplo, foi um cara falar sobre trânsito na rádio CBN me representando e disse “o Datena está errado” [em se opor a mais radares]. Por que eu sou contra radar? Isso não é [feito] com o objetivo de educar o povo e reduzir acidentes. Se o partido quiser que eu seja candidato, ele que demonstre. Você viu a convenção do Lula?
Do Boulos, não?
Era a convenção do Lula, depois da Marta [Suplicy], depois do Boulos. A do Ricardo Nunes vai ser do [Jair] Bolsonaro, depois do Tarcísio [de Freitas], depois dele. O Ricardo Nunes parece uma marionete do Bolsonaro e do Tarcísio. O Boulos, a mesma coisa. Não é possível essa polarização continuar. Eu gostaria de ter uma convenção igual à deles. Vai ser tudo por aclamação. Não foi lá? O maior festão.
Gostaria de ser aclamado também?
Eu tenho que ser aclamado pelo voto do povo. Está tudo certo morrer com um tiro no peito vindo do PCC ou de quem quer que seja, porque não vou usar colete à prova de balas. Mas morrer com um tiro nas costas dentro do partido? Não precisa me aclamar, mas também não precisa atirar pelas costas.
O que seria esse tiro?
É só ver. Boa parte do partido debandou para o Ricardo Nunes. Dinheiro e cargo. Há alguns dias trocaram a federação [PSDB-Cidadania] inteira de São Paulo. Eu fiquei sabendo depois. Mesmo assim, continuaram essas críticas idiotas, que só podem vir do intestino do partido.
Qual é a sua vontade de ser confirmado na convenção, de 0 a 10?
Minha vontade é 10. Se sábado eu sentir que os caras vão me encher o saco na convenção, eu não vou. Acabou.
Essas convenções [dos partidos] vão ser por aclamação e com gente pesada. Se a nossa for porrada para todo lado, no que vai me ajudar?
O sr. poderia desistir depois da convenção?
Acho que a convenção vai homologar meu nome. Já é um princípio básico, inequívoco, de que, realmente, quem está comigo está comigo. E quem não está vai se ferrar porque não vai estar comigo. Deixando transparecer essas trocas repentinas, você demonstra uma fraqueza dentro da sua própria estratégia.
Em quem confia no PSDB para ser seu vice?
Tem bons nomes, tem o José Aníbal, o Zuzinha [Mario Covas Neto], mas eu estou deixando a escolha do vice para o partido, desde que eu concorde.
O que o sr., enquanto tucano, está fazendo para o partido renascer?
Eu não sou Deus para fazer o PSDB renascer. Mas não é na base da vaidade que destruiu o partido que esse partido vai voltar a ser o que era.
A virtude do homem é fazer o que o Biden fez, quando desistiu de ser candidato: é saber que numa eleição o povo é sempre o mais importante.
O sr. vai fazer a mesma coisa que Biden?
Se o cara que é o presidente da maior nação econômico-militar do mundo acha que o povo é mais importante do que ele, por que eu não posso achar? Se eu não me sentir capacitado a ajudar o povo?
A partir do momento que eu não me sinta respaldado totalmente pelo partido, que haja palhaçada nessa convenção, que tenha manifestações…
Num partido dividido do jeito que está o PSDB hoje, e não me sustentando como candidato, não me sinto capaz de resolver nem os problemas do PSDB, quanto mais do eleitorado.
O que o sr. espera?
Espero que até sábado o PSDB resolva os seus problemas, que a gente parta para uma convenção de consenso e que as pessoas que estão no PSDB tenham certeza de que o vírus que destruiu o partido foi o da individualidade e o da vaidade.
Quando o sr. se filiou ao PSDB [em abril], o partido já estava dividido e boa parte já apoiava o prefeito.
Sim. Você já foi para o Alasca? Lá tem lago gelado, aí você vê se o gelo tem suficiente espessura para atravessá-lo. Eu sabia que o gelo do lago congelado do PSDB era fino, mas não tanto. Isso descobri depois de estar lá dentro.
O sr. foca muito em segurança…
A meta é segurança, mas eu não quero ser eleito prefeito como xerife da cidade. Não é porque eu apresento há 26 anos um programa de polícia que sou xerife.
Como vai tirar o crime da administração pública?
Minha meta principal é realmente a segurança pública. Tem que investir também em todo tipo de segurança, segurança alimentar, dar mais saúde, mais educação.
A GCM [Guarda Civil Metropolitana] vai ser supervalorizada, equipada com armas da melhor qualidade. Mas não tem jeito de falar em segurança sem contar com a ajuda do governo do estado e da Justiça. Não pode um traficante pé de chinelo ser pego num dia e no outro dia estar traficando de novo porque foi solto em audiência de custódia.
É algo que não está na alçada do prefeito, concorda?
É por isso que digo que não dá para governar São Paulo sozinho. Tenho um bom tráfego com gente da polícia, o governador, o [promotor Lincoln] Gakiya, que é um cara que combate o tráfico, delegados.
Não é errado ter como principal bandeira algo que não depende só do sr.?
Não, porque é uma bandeira. É a principal, mas eu defendo todas as outras. O partido está conversando com pessoas notáveis para montar um plano de governo. Eu não tenho capacidade nenhuma de fazer um plano de governo voltado à educação, à saúde… Eu não sou super-homem e não tenho poderes para resolver todos os problemas da cidade, mas tem gente que tem.
Que outras propostas o sr. apresentará?
Por exemplo, tenho uma sugestão para fiscais da prefeitura usarem câmera de corpo. Muitos deles são vigaristas, picaretas.
A GCM também tem que usar câmeras?
Acho que todo mundo tem que usar, demonstra transparência.
Foi um erro o sr. dizer na sabatina Folha/UOL que vai acabar com a tarifa zero aos domingos?
Não, foi mal-entendido, eu falei que a tarifa zero é uma mentira desgraçada desse prefeito. Eu posso até dar tarifa zero, mas desde que os caras [empresários do setor] cobrem um preço justo durante a semana. É melhor o cara pagar justamente todo dia do que um cara, numa medida totalmente eleitoreira, [criar a gratuidade aos domingos].
Não é que eu sou contra a tarifa zero. Em governo meu, ninguém vai sentar a bunda em ônibus do PCC, porque não vai ter PCC, a não ser que o PCC me mate.
Interessava a Tabata que o sr. fosse para o PSDB, mas para ser vice dela. A decisão de ser candidato foi sua.
Se ela correu esse risco, me trocar por um minuto [de propaganda na TV e no rádio], ela correria o risco de o PSDB fazer uma pesquisa própria e ver que eu tinha potencial.
Foi o sr. que escolheu isso, não?
Claro que fui eu que escolhi. Ela disse que eu sou suficientemente grandinho para tomar decisões. Ou ela me chamou de gordo, e eu tenho horror a preconceito, porque sou gordinho com muito prazer, ou ela me chamou de velho, e eu tenho honra em ser idoso. Eu disse a ela várias vezes que não queria ir. Ela facilitou minha decisão. Me trocaram por 40 segundos, e eu não sou relógio. Não é arriscado você pegar um ativo importante da sua campanha e botar em outro lugar?
Fonte: Folha de S. Paulo