O julgamento de Jair Bolsonaro e de outros sete acusados no Supremo Tribunal Federal começou nesta semana, mas um movimento paralelo busca inverter os papéis dentro da Corte. O relator Alexandre de Moraes, que conduz o processo, passou a ser o alvo da estratégia bolsonarista: transformar o julgador em acusado. Fora do plenário, a narrativa ganha força com denúncias que, independentemente de sua consistência, têm o claro objetivo de fragilizar a posição de Moraes.
O ato inaugural dessa ofensiva ocorreu no Senado, com a participação remota do perito Eduardo Tagliaferro, ex-assessor de Moraes hoje foragido na Itália. Em depoimento à Comissão de Segurança, ele afirmou que, em 2022, recebeu a orientação de produzir um relatório para justificar uma operação da Polícia Federal contra empresários alinhados a Bolsonaro, e que a data desse documento teria sido adulterada. Tagliaferro, portanto, atribui ao ministro do STF a prática de falsidade em ato judicial, acusação grave e de efeitos políticos imediatos.
A investida contra Moraes segue o padrão bolsonarista: transformar investigações e julgamentos em arenas de disputa política. Mais do que provar a culpa ou inocência dos réus, o objetivo é manter sob pressão o magistrado que se tornou símbolo de enfrentamento ao bolsonarismo. Se a denúncia terá sustentação jurídica ou será apenas um ruído a mais, é o que o tempo mostrará. O fato é que, no meio do julgamento mais delicado da história recente do país, o foco se desloca do ex-presidente para o ministro que o julga.
Fonte: ESTADÃO
