A Polícia Federal (PF) recomendou nesta segunda-feira (20) a abertura de uma investigação sobre a suposta entrada de Filipe Martins, ex-assessor para Assuntos Internacionais do governo Bolsonaro, nos Estados Unidos, em 30 de dezembro de 2022. A PF acusa Martins de simular “uma falsa entrada” nos EUA.
O delegado Fabio Shor disse ter confirmado a alegada viagem de Martins por meio do Departamento de Segurança Interna (Department of Homeland Security – DHS). Segundo ele, a consulta ao histórico de Martins no site do DHS “retornou um registro de entrada do então investigado nos Estados Unidos, na data de 30.12.2022, pela cidade de Orlando, Estados Unidos”.
A defesa de Filipe Martins fez de tudo para provar que seu cliente não saiu do Brasil na ocasião da viagem que teria servido de pretexto para sua prisão. Não faz o menor sentido lógico, portanto, imaginar que o próprio Filipe Martins forjou sua entrada falsa
Para a corporação, membros do governo Bolsonaro teriam abusado “dolosamente das prerrogativas diplomáticas”, que garantem procedimentos migratórios diferenciados, e forjado a entrada de Martins nos Estados Unidos.
Trata-se da maior bizarrice já vista esta “tese” da PF alexandrina. A defesa de Filipe Martins fez de tudo para provar que seu cliente não saiu do Brasil na ocasião da viagem que teria servido de pretexto para sua prisão. Não faz o menor sentido lógico, portanto, imaginar que o próprio Filipe Martins forjou sua entrada falsa em solo americano.
O professor Andre Marsiglia comentou o caso: “A resposta da PF sobre o caso Filipe Martins é uma loucura jurídica: 1) atribui a culpa de toda irregularidade a Martins e 2) trata quem discorda como milícia, colocando nesse balaio jornalistas e advogados. É o primeiro de um último passo: a formalização da censura no país. E não se enganem: isso só foi, e continua sendo, possível em razão do silêncio de parte significativa da sociedade, da imprensa e da advocacia, que comemora quando o arbítrio é dirigido ao entorno de Bolsonaro”.
A prisão de Filipe Martins representa um abuso claro de poder. Feita sob o pretexto de uma viagem que Filipe não fez, com base numa “reportagem” de Guilherme Amado, do Metrópoles, agora o delegado Fabio Shor ataca “milícias”, abre investigação de jornalistas e parlamentares, tudo sob o “argumento” patético de que o próprio Filipe teria sido o responsável pela falsificação de sua entrada nos Estados Unidos.
Marsiglia conclui: “Ou seja, em vez de reconhecer o erro e revogar a prisão de Martins, a resposta policial sugere inaugurar um novo período de caça às bruxas contra os que apontam as irregularidades do caso”. Shor só fez isso pois os “capangas” de Alexandre de Moraes se sentem muito à vontade com a proteção do sistema. Ele só ignora que a Justiça americana é outra história: os responsáveis serão responsabilizados e não há poder supremo capaz de blindá-los.
Por Rodrigo Constantino – Gazeta do Povo