O pedido de absolvição de Jair Bolsonaro feito pelo ministro Luiz Fux reaquece uma discussão central para o país: a Justiça brasileira é, de fato, um instrumento imparcial ou acaba refém do peso político de quem está no banco dos réus?
Fux defendeu que não há provas suficientes para sustentar a condenação do ex-presidente. Do ponto de vista técnico, o argumento é legítimo: sem base sólida, qualquer decisão condenatória se fragiliza diante da Constituição. Mas, no plano político e social, o gesto lança dúvidas preocupantes. Afinal, será que figuras públicas de enorme influência recebem o mesmo crivo rigoroso que um cidadão comum enfrentaria?
Ao absolver Bolsonaro, o ministro envia uma mensagem que pode ser lida de duas formas. Para apoiadores, é a demonstração de que perseguições políticas não devem manchar a Justiça. Para críticos, é mais um capítulo de complacência institucional com quem já testou os limites da democracia. Esse duplo efeito é, em si, um alerta: quando a Justiça parece pender para um lado, sua própria credibilidade fica em xeque.
O voto de Fux, portanto, não é apenas sobre Bolsonaro. Ele expõe a encruzilhada em que o Judiciário se encontra: ser guardião estrito da lei ou ceder à tentação de interpretar seus próprios limites diante da pressão política. O perigo está em normalizar uma seletividade que enfraquece a confiança da sociedade na balança da Justiça.
No fim, mais do que aliviar ou condenar um ex-presidente, a decisão de Fux ajuda a definir até onde o Brasil está disposto a ir para proteger — ou relativizar — os princípios da democracia.
Da redação