Bolsonaro não tem moral para reclamar de petista que disse “bota e leva pra vala”

Entre a vala do Jerônimo e o fuzil do Jair, sobra cada vez menos espaço para quem acha que política deveria ser feita com argumento, voto e respeito

O Brasil, essa espécie de hospício continental que abriga dementes sem previsão de alta, vive dias em que a patifaria virou capital político e o ódio, antes disfarçado de indignação cívica, agora é vomitado com naturalidade por autoridades públicas – da esquerda à direita, passando pelo centro, ou centrão.

Em um país relativamente normal, soaria como escândalo, indignaria a imprensa e geraria nota oficial do partido. Aqui, além de aplausos de militantes, memes nas redes e silêncio cúmplice de quem prega o “amor”, no máximo um pedido de desculpas protocolar: “Quem me conhece sabe, eu sou uma pessoa religiosa, sou uma pessoa de família, não vou nunca tratar qualquer opositor com um tratamento desteA fala foi descontextualizada”, resumiu o petista.

Isentões ao paredão

Sejamos justos. Jerônimo Rodrigues não está inovando. Ele apenas pisa onde o próprio Jair Bolsonaro já lavrou terreno. Afinal, se o petista quer jogar bolsonaristas numa vala, é bom lembrar que o “mito” sempre cavou buracos para os adversários: “Fuzilar a petralhada”, “Extirpar a esquerda da política”, “Eliminar o PT no Brasil”. Palavras dele, não de seus seguidores. E todas ditas com a mesma naturalidade com que se pede um café.

Por isso, seu chororô nas redes sociais é simplesmente patético: “Esse discurso vindo de uma autoridade não apenas normaliza o ódio como incentiva o pior: a violência política, o assassinato moral e até físico de quem pensa diferente. É a institucionalização da barbárie como verniz da liberdade de expressão progressista”. Acreditem ou não, foi isso que publicou aquele que prefere um filho morto em acidente de carro a um filho gay.

Ambos os lados tornaram a retórica da violência um método de comunicação e mobilização. A diferença é que, enquanto a direita bolsonarista exibe sua selvageria com orgulho e sem maquiagem, a esquerda lulista segue tentando nos vender seu “ódio do bem”, como reação proporcional. Jerônimo não foi um ponto fora da curva; foi só mais um petista – sem medo de ser feliz – a mostrar sua verdadeira face autoritária.

Se hoje o governador baiano fala em vala, ontem, Bolsonaro falava em fuzilamento. Amanhã, algum outro selvagem com cargo público irá sugerir crematório, paredão ou espancamento. É o país do discurso de ódio institucionalizado. Entre a vala do Jerônimo e o fuzil do Jair, sobra cada vez menos espaço para quem acha que política deveria ser feita com argumento, voto e respeito. Coisa de “isentão”.

O Antagonista

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