Fraudes no INSS: CGU sabia de irregularidades desde 2019

Ministro diz que técnicos investigavam os desvios, mas ressalta que não se tinha a “magnitude do problema” e defende a atuação do órgão. Parlamentares convocam Camisotti, apontado como figura central no esquema e preso desde setembro

Parlamentares da CPMI do INSS cobraram explicações do ministro da Controladoria-Geral da União (CGU), Vinícius Marques de Carvalho, para o fato de irregularidades denunciadas desde 2019 só terem resultado em medidas concretas em 2024 e 2025, após operações da Polícia Federal. A sessão com a presença do titular da CGU, nesta quinta-feira, foi marcada, mais uma vez, por tensão entre integrantes do colegiado.

Carvalho afirmou que só tomou ciência direta do problema em março de 2024, quando pedidos da imprensa, via Lei de Acesso à Informação (LAI), levantaram suspeitas sobre os descontos. Apesar disso, admitiu que técnicos da CGU já acompanhavam o tema desde 2019, com ao menos 11 reuniões de grupos de trabalho. “O que não se sabia era a magnitude do problema”, declarou.

Ele também defendeu o secretário de Controle Interno da pasta, Ronald Balbe, acusado por parlamentares de sugerir sigilo em relatórios. Segundo Carvalho, a medida poderia ter relação com imperativos legais de proteção às investigações.

Questionado pelo relator da CPMI, deputado Alfredo Gaspar (União-AL), sobre a demora em comunicar ao Executivo, Carvalho respondeu que não poderia ter alertado o governo. “Era minha obrigação funcional não revelar nada para ninguém”, disse, reforçando que a CGU já tratava do caso internamente.

Gaspar criticou a postura e avaliou que a falta de comunicação atrasou as providências do governo. Relatórios da Controladoria, elaborados em 2023 e 2024, apontaram que cerca de 97% dos descontos associativos não tinham autorização dos beneficiários. Esses documentos embasaram a Operação Sem Desconto, deflagrada pela PF neste ano.

O presidente da comissão, senador Carlos Viana (Podemos-MG), também cobrou explicações sobre a demora. “As denúncias começaram em 2016, ampliaram em 2022 e só foram suspensas em 2025. Se os órgãos de controle tivessem agido no tempo certo, milhões de aposentados não teriam sido roubados”, afirmou.

Já o deputado Rogério Correia (PT-MG) elogiou a atuação da CGU a partir de 2023, mas ressaltou a necessidade de investigar o período anterior. “É preciso entender por que nada foi feito de 2019 até 2023, quando já havia denúncias de roubalheira contra aposentados”, ressaltou.

Convocações

A sessão também aprovou requerimentos relevantes, entre eles a convocação de Maurício Camisotti, empresário apontado como figura central no esquema e preso desde setembro pela Polícia Federal. A oitiva deverá ocorrer mesmo dentro da carceragem, mediante autorização do Supremo Tribunal Federal (STF).

Além disso, os parlamentares aprovaram 88 pedidos de quebra de sigilos bancários e telefônicos de empresários investigados, bem como a convocação de entidades ligadas às suspeitas, como a Contag. Alguns requerimentos, no entanto, foram retirados de pauta após acordo entre a base governista e a presidência da comissão.

O clima de tensão marcou a relação entre os parlamentares. Em meio à votação de requerimentos, Viana repreendeu o deputado Paulo Pimenta (PT-RS), que havia se exaltado durante uma discussão. “No grito, ninguém vai ganhar nada”, avisou, pedindo que o parlamentar não elevasse o tom. A sessão foi suspensa por alguns minutos. Na retomada, Pimenta pediu desculpas públicas.

O depoimento de Vinícius de Carvalho, transmitido ao vivo, foi acompanhado de perto por parlamentares da base e da oposição, que enxergam na atuação da CGU um dos pontos-chave para esclarecer as falhas de fiscalização. Enquanto governo e aliados reforçam que as auditorias motivaram a atuação da Polícia Federal e resultaram na suspensão dos descontos, opositores argumentam que a demora em agir ampliou o prejuízo a milhões de beneficiários do INSS.

Com novos depoimentos e documentos em análise, a CPMI promete aprofundar a investigação sobre os vínculos políticos e empresariais do esquema. Parlamentares já indicaram que, além das associações e empresários envolvidos, a comissão pode avançar para examinar conexões com figuras do meio político, em especial por meio de emendas e encontros revelados durante as apurações.

CB

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