O governo do presidente Lula se aproxima da metade deste terceiro ano de mandato que seria, segundo o petista, “o ano da colheita”, sem novidades a apresentar.
Da lavoura petista saíram até agora as trapalhadas de Janja e carregamentos de ordens judiciais contra sindicalistas metidos num escândalo bilionário de corrupção na Previdência.
O governo envolveu-se numa disputa para atribuir o esquema ao governo de Jair Bolsonaro enquanto busca justificativas para a explosão absurda de descontos ilegais em aposentadorias ocorrida depois da chegada de Lula ao Planalto.
No Congresso, a colheita legislativa se dará numa CPMI para investigar a roubalheira no INSS. A oposição conseguiu as assinaturas e aguarda agora que Davi Alcolumbre cumpra o regimento do Parlamento instalando a apuração.
Se Lula já não tinha forças para influenciar deputados e senadores a votarem matérias de interesse do governo, com a chegada da CPMI, a chance de a gestão petista aprovar matérias importantes enquanto a investigação parlamentar se desenvolver será nula.
Como ocorre com todo circo que envolve as investigações parlamentares, a bateria de sessões com depoimentos de investigados, quebras de sigilos e revelações sobre entranhas do poder dominarão a agenda política.
Decorre desta constatação o desespero exposto nas redes, nesta sexta, pela ministra Gleisi Hoffmann, a responsável por fazer com que o Congresso vote matérias de interesse do governo. Gleisi não quer a CPMI e teme vazamentos que ampliem a crise e prejudiquem a sigilosa marcha da Polícia Federal.
“Uma CPMI, no ambiente de exploração política em que está sendo proposta, pode comprometer o sucesso da investigação policial, que deve permanecer protegida de interferências externas e do vazamento de informações”, diz Gleisi.
Até aí, nenhuma novidade. Petista gosta de CPMI quando o alvo não é a companheirada — no caso, os muitos sindicalistas metidos nas fraudes.
Para a ministra petista, basta que a Polícia Federal cuide do caso em sigilo, sem que a sociedade saiba dos podres envolvidos no caso, e que o governo use dinheiro público para devolver o que foi roubado dos aposentados.
A investigação do parlamento, embora barulhenta e custosa ao país — em tempo e dinheiro –, costuma produzir frutos. Uma CPMI foi importante para descortinar a roubalheira na pandemia, durante o governo de Jair Bolsonaro, e será importante agora para mostrar a cara dos “responsáveis” pelas fraudes. O país precisa dar nomes aos sindicalistas que fizeram fortuna fraudando idosos e conhecer os políticos que permitiram esse assalto.
O dado que demonstra o desespero do Planalto com a abertura da CPMI está no trecho do texto de Gleisi em que a ministra sugere que as investigações no Legislativo atrasariam o reembolso a aposentados. Puro terrorismo com os aposentados já angustiados e humilhados pelas fraudes.
Segundo ela, a CPMI poderia atrasar a devolução de dinheiro às vítimas, “já que sua duração está prevista para seis meses, impactando nas medidas já em curso”. Não faz sentido, já que o INSS dispõe de meios para identificar com facilidade quem foi logrado. Atraso ocorreria se o governo resolvesse jogar com os aposentados para pressionar o Congresso a barrar a investigação.
Ministra de um governo que se orgulha de ter descoberto a fraude, Gleisi deveria defender todo tipo de investigação. Em nome da defesa dos aposentados, quanto mais, melhor. Não é, no entanto, o caso.
Fonte: Veja