Novo PAC fracassa e Lula fica sem vitrine eleitoral para 2026

Por Wesley Oliveira – Gazeta do Povo

Lançado ainda em 2023 como uma das principais apostas do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Programa de Aceleração do Crescimento, apelidado de novo PAC, não trouxe o capital político esperado pelo petista. Sem conseguir promover grandes obras pelo país, integrantes do Palácio do Planalto já admitem que o governo não terá uma grande vitrine para explorar na campanha eleitoral de 2026.

Inicialmente, o novo PAC previa retomar ou começar pelo menos 23 mil obras ao longo dos quatro anos de governo. Contudo, até o momento, cerca de 48,6% dos empreendimentos ainda estão em ação preparatória. Ou seja, em contratação, estudo, projeto de engenharia e/ou licenciamento ambiental. Na prática, os projetos que estão nessa fase ainda não tiveram início.

Do total, apenas 3,8 mil obras foram concluídas, enquanto cerca de 5 mil ainda estão em fase de execução e 2,8 mil estão em fase de licitação ou leilão. No final de maio, por exemplo, Lula esteve na Paraíba para entregar parte da obra do chamado Ramal Apodi, que faz parte da transposição do Rio São Francisco.

Essa obra foi iniciada ainda em 2021, no governo do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), e o evento organizado por Lula ocorreu apesar de menos de 75% do ramal ter sido concluído, até o momento.

“Sempre vai existir a seca, agora a fome por causa dela é falta de vergonha na cara das pessoas que governam esse país. O rio nasceu em Minas Gerais, ele passa por aqui e de lá vai para o mar. O que eu quero é pegar um pouquinho de água antes dela chegar no mar e trazer de volta para o povo do sertão”, disse o petista na ocasião.

O apagão do novo PAC acontece justamente em meio ao movimento do Ministério da Fazenda de bloquear R$ 31,3 bilhões do Orçamento para cumprir a meta fiscal. O contingenciamento no programa de obras será de cerca de R$ 7 bilhões. Apesar disso, Lula afirmou na última semana que o programa está “andando com rapidez”.

“Nunca houve no país um momento de tanta combinação entre políticas de inclusão social, que combina mais emprego, que combina mais salário, que combina mais distribuição de programas sociais, que combina com mais PAC. Já executamos 711 bilhões até agora nas obras do PAC, entre obras públicas e privadas, numa demonstração de que as coisas estão andando com rapidez”, afirmou Lula nesta terça-feira (3).

Sem grandes obras, Lula foca em entregas menores pelo país 

Diante da dificuldade de retomar grandes obras ou investimentos maiores, Lula tem dedicado suas agendas em pequenas entregas pelo país. A estratégia se dá em meio ao derretimento de popularidade de petista ao longo dos últimos meses.

Pesquisa Quaest divulgada nesta quarta-feira (4) mostrou que a desaprovação atinge 57% dos brasileiros, enquanto a aprovação está em 40%. Segundo o levantamento, a rejeição a Lula está alta nas regiões Sudeste (64%), Sul (62%) e Centro-Oeste/Norte (55%), já no Nordeste fica em 44%.

A pesquisa da Quaest foi realizada entre os dias 29 de maio e 1º de junho com 2.004 pessoas em 120 cidades. A margem de erro é de 2 pontos percentuais para mais ou para menos, com grau de confiança de 95%.

Uma das estratégias do Palácio do Planalto para tentar contornar a crise de popularidade do governo é organizar viagens de Lula pelo país. Sem grandes obras, a agenda costuma ser voltada para entregas menores como, por exemplo, a viagem feita em março, para Sorocaba, no interior de São Paulo, quando o presidente liberou cerca de 700 novas ambulâncias para a frota do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).

Após retornar da França, na próxima semana, a expectativa é de que o petista volte a cumprir agendas pelo país, justamente para tentar reverter o cenário de desaprovação. As viagens devem incluir entregas de escolas e postos de saúde, justamente para tentar atingir parte do eleitorado impactado na rejeição ao governo petista.

Neste cenário, o governo lançou neste ano um segmento do novo PAC voltado para a construção de creches e compra de ônibus escolares. Segundo o governo, serão R$ 2,3 bilhões em investimentos para a construção de 500 novas creches e pré-escolas de educação infantil e a aquisição de mil novos ônibus. Essas entregas, no entanto, são vistas dentro do Planalto com menos chances de repercutir politicamente para Lula como em outras obras do PAC, como ferrovias e portos pelo país, por exemplo.

“Nós já estamos em modo campanha. Tirar Lula do Palácio dá a ideia de movimento e proximidade com o povo. O tamanho da obra pouco importa, mais importante é a presença dele fora de Brasília. Lula é o garoto-propaganda do governo. A ida é mais importante que a obra em si, esse é o sentido político”, disse o secretário nacional de Comunicação do PT, Jilmar Tatto, em entrevista ao jornal O Globo.

Lula entra em embate com governadores sobre obras do novo PAC 

Além de tentar capitalizar politicamente as entregas do novo PAC, as viagens de Lula pelo país têm gerado embates com os governadores de alguns estados. Recentemente, durante uma visita ao município de Itajaí, em Santa Catarina, criticou a ausência do governador Jorginho Mello (PL) em seu palanque. “Estão com raiva, não vieram, nem virão e não têm coragem de dizer o que fizeram pelo país”, disse Lula.

Na sequência, o ministro de Portos e Aeroportos, Silvio Costa Filho, acusou o governador catarinense de ser “ingrato”. “Eu não ia nem falar isso, mas se tem um governador que está sendo ingrato com o presidente Lula é o governador deste estado aqui”, disparou Costa Filho.

Em resposta, Jorginho Mello usou as redes sociais para rebater as críticas e afirmou que o governo federal não tem investido em obras no estado como propagado pela atual gestão presidencial. Ele ainda disse que Lula “veio entregar conversa mole” em Santa Catarina. “A cada R$ 100,00 que Santa Catarina manda para Brasília, apenas R$ 10,00 são devolvidos […] Ainda somos ingratos?”, rebateu o governador.

Antes disso, o presidente criticou a ausência dos gestores estaduais durante um evento no Palácio do Planalto para divulgar o PAC Seleções. Na ocasião, apenas oito dos 27 governadores estiveram presentes e outros três enviaram seus vice-governadores, dentre eles, Felício Ramuth, de São Paulo.

“Não é porque governo de São Paulo é oposição que vou deixar de atender projetos. Quando a gente faz PAC Seleções é novidade na política brasileira, nunca se chamou entes federados para discutir política pública, era política de amigo, de compadre”, disse Lula sem citar Tarcísio de Freitas, o governador paulista.

Continue Lendo

ÚLTIMAS