Promiscuidade já não é a palavra mais adequada para descrever a relação de nossos ministros supremos e seus cônjuges com clientes que acabam com causas no STF. Corrupção parece um termo mais fiel e descritivo do que ocorre ali. E a reportagem de Malu Gaspar no Globo hoje sobre o contrato do Banco Master com o escritório da esposa de Moraes expõe bem isso.
A primeira surpresa é o Globo publicar algo assim, que certamente é para lá de constrangedor para Alexandre de Moraes. Estaria o grupo largando a mão do ministro? A segunda surpresa é o valor do contrato entre Banco Master e o escritório de Vivi de Barci, esposa de Alexandre de Moraes: R$ 3,6 milhões por mês!
“Documento previa o pagamento de R$ 129 milhões em três anos ao escritório da mulher e dos filhos do ministro”, diz a chamada. Detalhe: trata-se de um escritório somente com sua sede e 11 advogados, entre eles os dois filhos do casal e a esposa do ministro Moraes, que nem era da área do Direito não faz muito tempo. Fachada?
Fingir que isso é remuneração normal por serviços honestos prestados é tratar o povo como idiota. Mas o povo não é idiota. E por isso exige o impeachment do sancionado ministro Alexandre de Moraes
O advogado Enio Viterbo comentou: “Um fenômeno da captação de clientes, né? Esse é o mesmo ministro que disse que não existe a ‘menor necessidade’ de um Código de Conduta para os ministros do STF. Esse é o mesmo ministro que participa de eventos patrocinados pelo Banco Master no exterior. Esse é o paladino da democracia de vocês?”
A vereadora Zoe Martínez resumiu o quadro e desabafou: “O dono do Banco Master, Vorcaro, está no centro de um rombo bilionário. Mesmo assim, ele saiu pela porta da frente na semana passada, como se nada tivesse acontecido. A esposa de Alexandre de Moraes, junto com os filhos, integrava o escritório contratado pelo banco. Ministros e ex-ministros do STF participaram de eventos luxuosos patrocinados pelo grupo. Ricardo Lewandowski, assim que deixou a Corte, virou consultor do próprio banco. Chamar isso de coincidência é subestimar o brasileiro. O caso agora está com Dias Toffoli, que colocou sigilo máximo no processo. O celular de Vorcaro, que pode revelar conversas comprometedores com figuras poderosas, está blindado. E ainda tem mais um detalhe que fala por si só: o próprio Toffoli pegou carona em um avião do advogado ligado ao caso Master. Transparência aqui só funciona quando interessa. Para completar o enredo, a desembargadora Cristiana Lins Caldas, indicada pelo governo Lula e que divide advogado com o próprio Vorcaro, autorizou sua libertação. Cada passo encaixa perfeitamente, como se tudo fosse parte de um grande arranjo. Existe uma elite que vive em um Brasil paralelo. Um Brasil onde nada pega, nada cola e nada respinga. Para eles há sempre um sigilo, um favor, uma mão amiga. Para nós sobra assistir ao espetáculo e continuar pagando a conta”.
Detalhe: Vorcaro deixava claro que os desembolsos para Viviane eram prioridade para o Master e não podiam deixar de ser feitos em hipótese alguma. Em uma das causas que ele participou, perdeu em duas instâncias, mas ainda cabe recurso. É um valor e tanto para um desempenho questionável. Talvez porque ainda não chegou ao STF…
As entranhas do sistema estão expostas em praça pública. Há no Brasil uma elite corrompida que tem certeza da impunidade, e até aqui ela está certa, apesar de uma fase de esperança do povo com a Lava Jato, devidamente enterrada. Essa turma não tem pudor e nem tenta manter as aparências. R$ 129 milhões! Fingir que isso é remuneração normal por serviços honestos prestados é tratar o povo como idiota. Mas o povo não é idiota. E por isso exige o impeachment do sancionado ministro Alexandre de Moraes.
Gazeta do Povo



