Rodrigo Pimentel, ex-BOPE: operação no Rio foi ponto de virada e pressiona Lula

Rodrigo Pimentel, ex-capitão do BOPE e autor de Tropa de Elite, avaliou a Operação Contenção, que aconteceu no final de outubro, no Rio de Janeiro, e suas consequências para a política de segurança no país. Em entrevista exclusiva à coluna Entrelinhas, ele afirmou que a megaoperação deve ser registrada como um ponto de inflexão. “Eu tenho certeza de que a operação é um marco. Ela abriu uma janela de apoio popular nunca vista no Brasil”, disse. Segundo ele, o respaldo é amplo: “Independente do instituto de opinião, em torno de 80% a 90% dos brasileiros apoiam a operação.”

Pimentel observou que o maior apoio vem das comunidades que convivem diariamente com o crime. “É justamente a ampla maioria dos moradores de periferia que não suporta mais o domínio territorial patrocinado pelo Comando Vermelho, pelas milícias, pelo Terceiro Comando, pelo PCC”, destacou. Para ele, o momento abre espaço para mudanças no marco legal. “É uma janela importante para aprovar legislações mais modernas e mais eficientes”, frisou.

Pressão sobre o governo federal

Ao comentar os efeitos políticos, Pimentel indicou que o movimento pauta as eleições do ano que vem e pressiona o governo federal. “Isso já está acontecendo”, declarou, citando a sanção de Lula a novas regras sobre as saídas temporárias de presos, texto de autoria do senador Sérgio Moro (União-PR).

O ex-capitão mencionou um caso recente de Goiás: Kaíque Ribeiro voltou a ser liberado pela polícia após audiência de custódia, mesmo respondendo a uma longa lista criminal. Meses depois, em 24 de novembro de 2025, ele foi morto em confronto com policiais na rodovia GO-222, durante abordagem em que foram apreendidos drogas e armas. “Ele tinha 11 anotações penais, respondia a 12 homicídios, e foi colocado em liberdade por uma audiência de custódia”, lembrou Pimentel.

Ele ressaltou que a magistrada responsável seguiu o marco legal em vigor. “A juíza não estava errada. Ela estava aplicando a lei”, afirmou, destacando, no entanto, que “o Brasil não suporta mais essa legislação” e que a norma “não está conectada com a realidade da população”.

O oficial observou ainda que a discussão sobre regras penais deve se intensificar no Congresso. Para Pimentel, o cenário criado após a operação pode acelerar debates sobre penas para crimes violentos e critérios de progressão. “O tema entrou na pauta de maneira mais direta. A pressão vem da população e dos estados”, disse.

Cooperação entre forças

Pimentel também comentou o impacto das operações integradas entre policiais civis, militares e forças federais. Segundo ele, a coordenação entre diferentes esferas deve ganhar espaço nas próximas ações. “A operação no Rio mostrou que, quando há alinhamento entre governos, o resultado aparece. Isso tende a orientar novas estratégias no país”, avaliou.

Ao analisar a relação entre segurança pública e gestão urbana, Pimentel destacou que a ocupação de territórios segue sendo um desafio central. Segundo ele, a presença do Estado em regiões dominadas por grupos armados não se limita a ações policiais. “Segurança envolve serviços, infraestrutura e política pública permanente. A operação abre espaço para discutir isso”, afirmou.

Sobre os próximos desdobramentos, Pimentel apontou que governos estaduais buscam apoio técnico para formular planos de médio prazo. Ele observou que a reação ao episódio do Rio serviu como referência. “Os estados querem aproveitar o momento para reorganizar políticas de enfrentamento ao crime e buscar instrumentos legais que deem sustentação às ações”, explicou.

Gazeta do Povo

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