Uma carta aberta divulgada nesta semana pelo presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Marcio Pochmann, acirrou ainda mais a crise interna que se arrasta há meses no órgão. No texto, Pochmann alegou que servidores propagavam informações falsas sobre a instituição e sugeriu recorrer à Justiça contra as críticas recebidas. O clima entre os funcionários é de crescente descontentamento e revolta, apurou o Broadcast, sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado.
Nesta sexta-feira, 17, o sindicato que representa os trabalhadores do IBGE, o Assibge-SN, respondeu afirmando que “não se intimidará com ameaças” e manterá sua mobilização pelo encerramento da fundação de direito privado IBGE+, criada durante a gestão de Pochmann.
“A entidade sindical recebe com grande perplexidade o fato de a presidência do IBGE alimentar uma crise que coloca em risco, ao menos no ambiente das redes, o maior patrimônio construído ao longo de quase 90 anos da instituição: sua credibilidade. Este patrimônio tem sido sempre defendido pelo sindicato, que combate a nova fundação por vê-la como uma possível ameaça a esse legado intangível e inalienável”, afirma a nota do sindicato, publicada nesta sexta-feira, 17.
O comunicado de Pochmann foi divulgado pelo IBGE na noite de quarta-feira, 15, em resposta às críticas recebidas de servidores representados pelo sindicato da categoria. No texto, ele mencionava “conflitos de interesses individuais e particulares em detrimento da missão institucional do IBGE”, além de citar “riscos de manipulação” e “divulgação e repetição constante de informações falsas”, sugerindo ainda que a Justiça poderia ser acionada contra os críticos.
“A divulgação e repetição contínua de informações falsas sobre o IBGE exige uma postura firme e esclarecedora acerca da realidade dos fatos. São condenáveis os ataques de servidores e ex-servidores, bem como de entidades sindicais e outros grupos que usam a internet e veículos de comunicação para espalhar inverdades sobre o próprio IBGE”, afirmou o comunicado de Pochmann.
Um dos principais pontos de atrito entre a presidência e os trabalhadores é a criação da fundação de direito privado IBGE+, apelidada de “IBGE paralelo”. O sindicato tem alertado sobre os riscos envolvidos, incluindo possíveis impactos na autonomia técnica e na credibilidade da instituição, uma vez que a fundação teria liberdade para contratar pessoas externas sem limites e realizar pesquisas sem seguir os padrões de qualidade e independência do IBGE.
“O IBGE atravessa uma grave crise interna decorrente, sobretudo, da criação da fundação de direito privado IBGE+, implementada sem consulta ao quadro técnico da instituição”, reforçou o novo comunicado do Assibge-SN. “As recentes exonerações na Diretoria de Pesquisas, somadas às insatisfações manifestadas por outros membros da direção, mostram que não se trata de uma simples discordância entre gestão e sindicato ou de um descontentamento isolado de uma pequena parcela de servidores. O descontentamento já alcançou o Conselho Diretor do IBGE, o qual o presidente compartilha com os demais diretores.”
Os representantes dos trabalhadores afirmam que, diante da ausência de diálogo sobre as questões levantadas em relação à nova fundação, a presidência de Pochmann “adota um tom infantil, classificando genericamente toda e qualquer discordância como mentira e insinuando que o sindicato estaria aliado a interesses contrários à missão institucional do IBGE”.
“A atual gestão assumiu um IBGE com financiamento insuficiente, infraestrutura precária e um quadro de trabalhadores, em sua metade, submetidos a condições de trabalho precarizadas. Não se nega, portanto, o cenário desafiador recebido pela nova presidência. Contudo, espera-se que a direção busque, junto ao Executivo e ao Legislativo, os recursos necessários para o funcionamento adequado da instituição, que fornece dados essenciais ao planejamento e à reconstrução do Estado brasileiro”, destacou o sindicato.
O IBGE também enfrenta um momento de renúncia de cargos de direção. Na semana passada, foi anunciado que a Diretoria de Pesquisas passaria a ter uma nova gestão, com a substituição de Elizabeth Belo Hypólito e João Hallak Neto. Ambos, nomeados por Pochmann há um ano, teriam solicitado exoneração devido a discordâncias com a atual gestão, segundo fontes do Broadcast. Ivone Lopes Batista, diretora de Geociências, também teria pedido exoneração, mas sua saída ainda não foi oficializada, pois aguarda a nomeação de um substituto.
Na resposta ao comunicado de Pochmann, o sindicato criticou a postura de acusar de mentirosa “toda e qualquer discordância”, argumentando que isso banaliza o combate à desinformação, ao invocar tal argumento para justificar supostos equívocos de gestão.
Além do tema da fundação IBGE+, os trabalhadores também criticam a falta de diálogo em outras decisões da gestão Pochmann, como o fim do regime integralmente remoto e a transferência de servidores de um prédio no centro do Rio de Janeiro para uma instalação do Serpro, na zona sul da capital. Segundo a presidência, a mudança geraria uma economia de aproximadamente 84% em relação aos R$ 15 milhões anuais gastos em aluguel e manutenção, com os recursos sendo destinados a reformas de outras unidades próprias na região central da cidade.
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