A derrubada do decreto do governo Lula que aumentava o IOF (Imposto sobre Operações Financeiras) foi um duro golpe político, com raízes em uma crise mais profunda: insatisfação generalizada no Congresso, problemas com a liberação de emendas parlamentares e uma articulação política frágil. A votação contou com uma expressiva maioria tanto na Câmara (383 a 98) quanto no Senado — este último aprovando a proposta simbolicamente, sem necessidade de votos registrados.
Parlamentares se mostraram irritados com a lentidão na liberação das emendas e enxergaram um excesso de centralização nas decisões, especialmente envolvendo o ministro do STF Flávio Dino, visto por muitos como um aliado próximo demais do Executivo. Dino cobrou explicações sobre a destinação dos recursos e bloqueou repasses sob suspeita de falta de transparência, o que acentuou o desgaste com o Legislativo.
Mesmo com o governo aumentando a liberação de emendas às vésperas da votação (R$ 1,72 bilhão em dois dias), isso não foi suficiente para reverter o cenário. A oposição se aproveitou do momento e comemorou a vitória como um freio ao que chama de “abuso fiscal” do governo, afirmando que o aumento do IOF atingiria diretamente o bolso dos brasileiros e dos setores produtivos, como o agronegócio.
Além disso, a fala do ministro Fernando Haddad de que o imposto atingiria apenas os “moradores da cobertura” caiu mal no Congresso, que entendeu como uma tentativa do governo de se colocar como o lado do “povo”, jogando a responsabilidade da derrota nas mãos do Legislativo.
Agora, com o decreto derrubado, o governo enfrenta não só um rombo estimado de R$ 12 bilhões no Orçamento, que poderá impactar programas sociais, como também uma relação ainda mais tensa com o Congresso. A crise das emendas, a falta de articulação e o distanciamento com o Legislativo tornam ainda mais difícil a governabilidade.
Agora, querendo ou não, para arrecadar o governo precisará “cortar na carne”, dando um freio nas gastanças de Lula e sua turma.
O povo, através de seus parlamentares, já deu o recado.