Parlamentar é suspeito de integrar grupo que articulava o envio de emendas a municípios do Ceará em troca de vantagens ilegais; nas eleições de 2024, Bolsonaro pediu sua saída do partido após apoio PT em Fortaleza
O deputado federal Júnior Mano (PSB-CE), de 40 anos, se tornou alvo de uma operação da Polícia Federal deflagrada nesta terça-feira (8) que investiga um esquema de desvio de recursos públicos no Ceará, por meio de fraudes em licitações e no uso de emendas parlamentares. A ação foi autorizada pelo ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e inclui 15 mandados de busca e apreensão, inclusive no gabinete do parlamentar em Brasília.
Natural de Nova Russas (CE), Antônio Luiz Rodrigues Mano Júnior iniciou sua trajetória política em 2016 como vice-prefeito de sua cidade natal. Foi eleito deputado federal em 2018 com 67.917 votos e reeleito em 2022 com 216.531 votos, a segunda maior votação do estado. Empresário e administrador, é atualmente membro das comissões de Saúde e de Integração Nacional e Desenvolvimento Regional na Câmara.
Júnior Mano foi eleito em 2022 pelo PL, partido do ex-presidente Jair Bolsonaro, mas acabou expulso da legenda em 2024 após declarar apoio ao candidato do PT à Prefeitura de Fortaleza, Evandro Leitão. O deputado participou de atos públicos e ajudou a reunir 41 prefeitos cearenses em favor da candidatura petista, o que causou seu rompimento com a sigla. O pedido de desligamento foi feito pelo próprio ex-presidente da República a Valdemar Costa Neto, mandatário da legenda.
A Operação Underhand, que corre sob sigilo, apura suspeitas de crimes como organização criminosa, lavagem de dinheiro, falsidade ideológica com fim eleitoral e captação ilícita de votos. Segundo a PF, o grupo investigado articulava o envio de emendas parlamentares a municípios do Ceará em troca de vantagens financeiras ilegais. Empresas ligadas aos envolvidos teriam sido usadas para fraudar licitações e desviar recursos públicos. Parte desse dinheiro teria sido utilizada para financiar campanhas eleitorais municipais em 2024.
A investigação teve início a partir de uma denúncia da Prefeitura de Canindé (CE) e ganhou complexidade ao identificar a suposta atuação de Mano no centro do esquema. O inquérito foi encaminhado ao STF devido ao foro privilegiado do deputado. A pedido da Procuradoria-Geral da República, o ministro Gilmar Mendes autorizou o bloqueio de R$ 54,6 milhões em contas bancárias dos investigados, além do acesso a dados telemáticos e o envio das provas à Controladoria-Geral da União (CGU).
Júnior Mano é casado com Giordanna Mano, atual prefeita de Nova Russas. Em 2022, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará cassou o diploma dela e do vice-prefeito por abuso de poder político e compra de votos, incluindo também o deputado na decisão, com sanção de inelegibilidade por oito anos. Cabe recurso.
Por meio de nota, o deputado nega qualquer participação no esquema. Alega não ter envolvimento em processos licitatórios ou na execução de contratos administrativos e reafirma sua confiança nas instituições e no esclarecimento dos fatos. “[Júnior Mano] Tem plena convicção de que, ao final da apuração, a verdade dos fatos prevalecerá”, diz o texto assinado pela sua defesa. A liderança do PSB na Câmara afirmou aguardar a apuração completa dos fatos, com respeito ao devido processo legal.
Publicada por Felipe Dantas
*Reportagem produzida com auxílio de IA