A análise que a Câmara dos Deputados faz hoje sobre a possível cassação de Glauber Braga (PSOL-RJ) representa, para muitos observadores, um raro momento de reafirmação institucional. Depois de anos em que a retórica agressiva, o confronto permanente e o desrespeito às regras regimentais se tornaram marca registrada de parte da atuação parlamentar, o avanço desse processo é visto como um sinal de que o plenário começa finalmente a impor limites.
Glauber construiu sua trajetória pública à base de ataques duros, provocações calculadas e uma militância que frequentemente ultrapassa o debate político para entrar no campo da hostilidade pessoal. Mesmo para padrões de uma Casa historicamente plural e barulhenta como a Câmara, seu comportamento muitas vezes destoou daquilo que se espera de um parlamentar: capacidade de diálogo, responsabilidade institucional e respeito aos adversários.
A possível cassação, portanto, não surge do nada. Ela se insere num contexto mais amplo de desgaste, acúmulo de excessos e uma sucessão de embates marcados muito mais por gritos do que por argumentos. Caso o plenário avance nessa decisão, o recado será claro: o mandato popular não é salvo-conduto para atropelar regras, instituições e a própria dignidade do Parlamento.
Para aqueles que defendem uma política mais madura e menos teatral, a movimentação desta terça-feira soa quase como um alívio. Não por silenciar críticas — as críticas são parte da democracia —, mas por demonstrar que a Casa não está disposta a aceitar que a figura do “parlamentar incendiário” seja normalizada.
Se confirmada, a cassação de Glauber Braga poderá marcar uma virada importante, mostrando que a Câmara busca recuperar o mínimo de respeito interno e externo, sobretudo em um momento em que o país necessita de instituições firmes, estáveis e capazes de se impor diante de radicalismos de qualquer matiz.
Para muitos, trata-se de uma decisão que chega tarde — mas que, ao menos, chega.



