Centrão aproveita indefinição da direita para ampliar influência em 2026

O crescimento dos partidos do Centrão nas eleições municipais de 2024, impulsionado em parte pelo apoio da direita, colocou o bloco em uma posição estratégica para as eleições gerais de 2026. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível e sem um sucessor claro na direita, somado à queda na popularidade do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Centrão tem margem para negociar apoio tanto com aliados do petista quanto com a oposição e até influenciar a composição de chapas presidenciais.

O presidente do PSD, Gilberto Kassab, reconheceu que a fragmentação da direita será inevitável caso o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas (Republicanos-SP), não entre na disputa pelo Palácio do Planalto. “A falta de definição de um candidato levará a direita fragmentada a tentar retornar ao poder em 2026. Cada partido deve lançar seu próprio candidato”, afirmou Kassab.

A pulverização de candidaturas facilita ao Centrão a negociação de vice-presidências e até o apoio a cabeças de chapa. Diante da inelegibilidade de Bolsonaro, nomes como o governador do Paraná, Carlos Massa Ratinho Jr. (PSD), começaram a ser cogitados em alianças com o PL para 2026.

Embora o Cenário nacional ganhe destaque, é nos estados que o Centrão pode ter mais êxito em repetir o desempenho de 2024. Dados do Poder360 mostram que o PL firmou centenas de coligações com partidos do Centrão, como PP, União Brasil, MDB, PSD e Republicanos. Além disso, a proximidade com Bolsonaro ajudou o bloco a ampliar sua força, com o PSD liderando o número de prefeitos eleitos, seguido por MDB, PP, União Brasil e Republicanos. Com uma possível saída de partidos do governo Lula, a tendência é que essas alianças se fortaleçam, impulsionando a eleição de deputados, senadores e governadores alinhados ao Centrão.

Indefinição da direita fortalece o poder de barganha do Centrão

Para o cientista político Elton Gomes, da Universidade Federal do Piauí (UFPI), o Centrão age de forma pragmática, aproveitando o cenário político para maximizar seu poder de negociação. “O Centrão vive de barganhas e negociações, e essas negociações dependem do contexto”, explica.

Segundo ele, a falta de uma liderança consolidada na direita cria um ambiente onde o Centrão pode aumentar seu poder de barganha. “Se houvesse um ex-presidente muito popular e com uma base eleitoral forte, o Centrão já poderia apresentar sua fatura de forma mais clara. Com a indefinição, ele tende a impor mais exigências para apoiar qualquer candidatura”, avalia.

Divergências na oposição sobre alianças com o Centrão

A possibilidade de alianças com o Centrão divide a oposição. Alguns parlamentares defendem a união para derrotar o PT, enquanto outros acreditam que qualquer aproximação deve ocorrer sob condições bem definidas.

O deputado Domingos Sávio (PL-MG) destaca a importância da convergência entre liberais e conservadores para enfrentar a esquerda. Já Maurício Marcon (Podemos-RS) pondera que alianças podem ser necessárias caso Bolsonaro não seja candidato, mas que precisam ser equilibradas. “Ter aliados é importante, mas vender-se por qualquer coisa não dá”, afirma.

Por sua vez, Ricardo Salles (Novo-SP) defende que alianças com o Centrão só devem acontecer se o grupo apoiar as pautas da direita. Para Marcel Van Hattem (Novo-RS), a crise econômica será um fator determinante na decisão do Centrão sobre quem apoiar. “Com o agravamento da crise, o Centrão pode se inclinar a um candidato da direita”, diz.

Pragmatismo do Centrão facilita alianças

O cientista político Adriano Cerqueira, do Ibmec de Belo Horizonte, ressalta que, apesar de sua flexibilidade, o Centrão tem uma tendência natural à centro-direita. “Eles não são de centro-esquerda, mas atuam pragmaticamente para se aliar a quem estiver no poder”, explica. Ele destaca que a vitória da direita nas eleições municipais de 2024 favorece novas alianças para 2026.

Centrão ganha espaço no governo Lula, mas sem compromisso para 2026

Enquanto negocia com a direita, o Centrão também busca ampliar sua presença no governo Lula. Reportagem da Gazeta do Povo mostrou que o presidente tem distribuído cargos para partidos do bloco como estratégia para conter sua perda de popularidade.

O Centrão, por sua vez, quer ocupar mais espaços na Esplanada dos Ministérios sem, no entanto, se comprometer com Lula para 2026. Nesse contexto, o vice-presidente Geraldo Alckmin (PSB) pode ter um papel fundamental na tentativa de manter o apoio de partidos como MDB e PSD ao governo. Com a baixa popularidade do petista, governistas avaliam que Alckmin pode ser a chave para segurar aliados e evitar que o governo perca ainda mais sustentabilidade no Congresso.

 

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