ANÁLISE: Bolsonaro preso amanhã e solto depois de amanhã

Encerramento da fase de recursos na chamada ação penal do golpe é questão de tempo. Mas a pergunta que fica: quando o ex-presidente será solto?

Por Wilson Lima-via O Antagonista

Jair Bolsonaro vai ser preso amanhã. Não falo do amanhã literal, 18 de novembro – um dia após a publicação dessa análise. Leia esse “amanhã”, caro leitor amigo, cara leitora amiga, como futuro próximo, fatal, inexorável e irremediável, ou outro adjetivo que caiba. Pensar, até onde se consta, ainda é livre neste país.

Nas contas do gabinete do ministro do STF Alexandre de Moraes e dos advogados de Jair Bolsonaro, o ex-presidente será preso entre o final de novembro e início de dezembro. Mais especificamente na primeira semana de dezembro. Na pior das hipóteses, na segunda semana. O próprio Bolsonaro sabe disso e teme passar o Natal longe dos familiares.

A primeira etapa já foi cumprida. Na sexta-feira de madrugada, o STF concluiu o julgamento dos primeiros embargos declaratórios. A decisão da Primeira Turma foi unânime: Moraes, Flávio Dino, Cristiano Zanin e Cármen Lúcia rejeitaram na íntegra as alegações das defesas. Nem mesmo uma vírgula do acórdão foi alterada. Um péssimo sinal para o ex-presidente.

Há ainda dúvidas se Moraes determinará o cumprimento da pena em regime fechado ou em prisão domiciliar. Hoje, pelo andar da carruagem, Bolsonaro iria para a “Papudinha”, local que já abrigou personagens do naipe de Anderson Torres, ex-ministro da Justiça e ex-secretário de Segurança do DF ou do ex-vice-governador do DF Benedito Domingos, condenado por fraudes em licitações e corrupção passiva. O político passou três anos e 6 meses em regime fechado.

Mas, na vida, há sempre o imponderável. Nelson Rodrigues evocou, por diversas vezes, às ações de Sobrenatural de Almeida para explicar os agouros do Fluminense. Alexandre de Moraes é corintiano e, se depender dele, o Sobrenatural de Almeida não deve dar o ar de sua graça nessa fase final do julgamento de Jair Bolsonaro.

Ventos da política vão soprar a favor de Jair Bolsonaro após ele ser preso?

A questão é que, na política, esse ser criado por Nelson Rodrigues atende por outro nome: “Os ventos da política”. Hoje, os ventos da política sopram contra Jair Bolsonaro; amanhã, ouso errar pela ousadia, vão soprar a favor.

O bolsonarismo faz contas. Sabe que o ex-presidente será solto. Quer seja por uma anistia ou mesmo por uma mudança de jurisprudência no STF. A verdade é que dificilmente Jair Bolsonaro passará um ano preso em regime fechado. Já já ele estará solto. Justamente por influência desses ventos que teimam em mudar de direção de tempos em tempos.

José Dirceu que o diga. Condenado no mensalão, condenado na Lava Jato, hoje ele dá aula de combate à corrupção. Irônico, não? E a esperança bolsonarista de que o ex-presidente estará solto em pouco tempo reside justamente nesse tipo de exemplo. Se Dirceu, hoje, tenta reconstruir a própria história, por qual motivo Jair Bolsonaro não teria o mesmo benefício?

E assim segue o Brasil. Como diria Eduardo Cunha: que Deus tenha piedade dessa nação.

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